Estou eu junto à porta da Igreja de Alegrete, aproveitando as ruas desertas para poder fazer algumas fotografias quando de repente, tocam os sinos três vezes e aparecem (em cerca de 20 segundos) 10 pessoas, do nada, junto à Igreja.
Começam o seguinte diálogo, que faço questão de transcrever da maneira mais fiel que consigo, embora não seja na íntegra por razões óbvias!
- Quem morreu?
- Foi o Chico.
- O qual Chico, o da junta ou o da leiteira?!
- Nã homem, nada disso!
- Entã qual, nã sê…!
- Entã nã haveras de saber??Ai, porra!
- O que teve junto com a prima do Acácio! Aquela da mercearia!
- AAHHH, aquele que caiu de mota lá na ribêra aí há uns tempos!
- Isso, esse mesmo! Aquele que teve duas tromboses e andava muito mal!
- Xiii, basta que sim!!
- É verdade, Deus o tenha!
- Olhem, sabem qual é que foi o problema dele?! Tava vivo!!
- É verdade, só morre quem cá está!!
- Coitado! Tenho pena do homenzinho! Vi-o anteontem com uma braçada de feno pás cabras lá ao pé da fonte de baixo. Parecia que andava bem…
- Sim!! Sim ele andava rijo, mas sabe como sã estas coisas, é quando Deus nosso senhor quer…
- Isso é que é verdade! Olhe, tá melhor assim! Já descansou…
- Ele tinha família?
- Tinha uns primos que moram lá pós lados dos Besteiros…mas sempre foi um desgraçado…
- A mulher fugiu com um pa Espanha quando era mais novo, a partir daí nunca mais se endireitou…
- O homem sofreu…
(…)
- Bom pessoal, a que horas é logo o Benfica…
- Acho qué às nove…
- Vá, até logo! Passem no caféi!
- TÉ LOGO!!
A razão pela qual eu publiquei este pequeno diálogo, prende-se com o facto de ser uma discurso em vias de extinção! A facilidade com que se identifica uma pessoa por esta “ter estado junta com fulano(a)” ou por ter “caído de mota na ribeira” são faculdades que a geração vindoura não consegue recriar! A filosofia existencialista acerca da morte de um individuo e os clichés que daí advêm são marcas que se perderão com o tempo.
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